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Greenvana Style

Carlos Drumond de Andrade



CARLOS DRUMMOND ANDRADE



Que pode a câmara fotográfica? 
Não pode nada. 
Conta só o que viu.
Não pode mudar o que viu. 
Não tem responsabilidade no que viu. 
A câmara, entretanto, 
Ajuda a ver e rever, a multi-ver 
O real nu, cru, triste, sujo. 
Desvenda, espalha, universaliza. 
A imagem que ela captou e distribui. 
Obriga a sentir, 
A, driticamente, julgar, 
A querer bem ou a protestar, 
A desejar mudança. 
A câmara hoje passeia contigo pela Mata Atlântica. 
No que resta - ainda esplendor - da mata Atlântica 
Apesar do declínio histórico, do massacre 
De formas latejantes de viço e beleza. 
Mostra o que ficou e amanhã - quem sabe? acabará 
Na infinita desolação da terra assassinada. 
E pergunta: "Podemos deixar 
Que uma faixa imensa do Brasil se esterilize, 
Vire deserto, ossuário, tumba da natureza?" 
Este livro-câmara é anseio de salvar 
O que ainda pode ser salvo, 
O que precisa ser salvo 
Sem esperar pelo ano 2 mil.

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